quarta-feira, 30 de maio de 2012

“Laissez-Faire” para principiantes...


Fran Pacheco

Pra quem cabulava a aula de francês, pronuncia-se Léssê Fér. É um termo cunhado pelos Fisiocratas do séc. XVIII, que significa “deixa rolar”. Tornou-se lema do Capitalismo Liberal, o original, ao propor o fim de qualquer intervenção do Estado nos negócios das empresas privadas. Baseava-se na duvidosa premissa de que um patrão é menos filho da puta do que um burocrata.

A ideia foi implementada em 1885, no Estado Livre do Congo, quando o país inteiro foi transformado numa empresa de propriedade particular do monarca Leopoldo II, rei dos belgas. A sede da Companhia ficava em Leopoldville – atual Kinshasa. Não foi por acaso que Joseph Conrad escreveu “O Coração das Trevas” após ter passado uma temporada dos infernos por lá. E o que Copolla filmou na sua transcriação indochinesa da novela é fichinha perto do que o velho Leopoldo aprontou.

Pra começar, o desemprego no “Estado Livre” foi sumariamente erradicado, pois todos os congoleses tornaram-se não mais cidadãos, mas funcionários arregimentados da seguinte forma: o setor de RH da Companhia enviava mercenários (headhunters, na moderna terminologia de Wall Street) que sequestravam as mulheres e crianças das aldeias. Os homens tinham que trabalhar no mínimo 7 dias por semana, embrenhados na selva, extraindo látex, óleo de copal e marfim – se não quisessem ver a família trucidada.

O pagamento pecuniário (salário) tornava-se, por este, digamos, “contrato de trabalho”, desnecessário. A baixa produtividade rendia ao funcionário uma mão ou um pé amputados, como advertência. A demissão era protocolizada com a execução sumária do ex-funcionário. Melhor não entrar em detalhes sobre o que acontecia com grevistas e anarco-sindicalistas. Misteriosamente, apesar dos fabulosos lucros do negócio, a quantidade de trabalhadores e seres humanos em geral existentes no Congo sofreu um forte “viés de baixa” durante a boca-livre da Companhia.

Com a mão-de-obra dizimada e pressionado pela grita mundial, o depravado Leopoldo, já sem ter onde enfiar tanto marfim, abandonou sua empreitada em 1908 e vendeu a carniça de volta ao Estado Belga, por 45 milhões de francos. E ainda embolsou mais 5 milhões, a título de “agradecimento pelos seus grandes sacrifícios em prol do Congo”.

O Congo é hoje isso que aí está. A memória de Leopoldo é venerada pelos belgas, que depois (felizmente) só conseguiram produzir os Smurfs. Os liberais (se é que existem verdadeiros liberais) não gostam muito de tocar no assunto.

(Extraído da “História Universal dos Filhos da Puta”)

domingo, 27 de maio de 2012

Na mesa com Arriá

Insalata Grand Royal Transgênera, um dos pratos mais fartos da revolucionária cozinha de Arriá.

Stella Maris

Arriá é o maior chef da atualidade. Chegar ao seu lendário restaurante La Pocilga é uma aventura. A orientação precisa que recebemos dos guias em Barcelona foi a seguinte: “Dobrem à esquerda, na Sagrada Família e depois à direita, na casa de Almodóvar e Caetano. Tomem um trólebus para o aeroporto. Peguem o primeiro voo para o Brasil. Chegando em Manaus ou Iquitos, perguntem.”

Tínhamos que correr. O restaurante é exclusivíssimo. Só abre na época da cheia do Uraricoera, e em anos bissextos terminados em 2. E fecha para o almoço. Em torno de 20 milhões de pessoas já fizeram reservas, esgotadas até o ano 2127. Arriá nunca dá entrevistas, exceto quando as concede. Não se arvora o título de “Chef”. Modesto, considera-se apenas “um gênio”. Paul Bocuse, do L'Auberge du Pont de Colloges, Allain Ducasse, do Alain Ducasse, Alex Atala, Babu Loureiro e outros tops do Guia de Pneus Michelin já foram enxotados do estabelecimento, ao tentar esconder acepipes nos bolsos. Karl Lagerfeld também foi expulso certa vez, por abanar seu leque roxo durante a sobremesa. Arriá tem fobia de leques roxos.

Chegamos quase na hora do estabelecimento fechar, para desespero dos garçons. “Vão querer o quê?” perguntou o maître, com a cara fechada. “Comer”, respondi. (O mau humor dos garçons de Arriá é lendário e dizem fazer parte do espetáculo). O cérbero grunhiu alguma coisa e trinta minutos depois, com nossas gargantas ardendo de sede, nos serviram dois copos d'água. Quentes. “Tem vinho, não?”, perguntei. “Ainda não inventaram nada capaz de harmonizar com os pratos de Arriá, dona”, resmungou. O garçom jogou em seguida a entrada em nossos pratos (o restaurante de Arriá não tem menu fixo, apenas uma sequência de 30 pratos aleatórios). Parecia um... grilo cristalizado, emitindo luzes néon e adornado por geleca. Engolimos sem mastigar. Teve um efeito entre o estupefaciente e o estuporante, com direito a flashback.

Adepto da nanotecnologia, Arriá concebe, com a ajuda de nerds, carnavalescos e especialistas em feng-shui, pratos muito, muuuito pequenos que subvertem todos os conceitos da culinária terrestre. Musses com a consistência de concreto, churrasco gelatinoso e espaguete de chiclete figuram entre suas criações imortais. Imperdível é o pão que explode na boca, importado da Faixa de Gaza. Um prato que só se pode degustar uma vez na vida. Sua pièce de résistance é o croquete de frango que quando mordido canta Cucurrucucu Paloma, com a voz de Caetano Veloso.

Após a degustação minimalista e loucos para encher urgentemente a pança com um X-Bauru, pedimos uma palavrinha com El Chef. Ele estava empanando um marsupial, mas nos concedeu gentilmente trinta segundos. Embora autoproclamado “catalão”, o sotaque de Arriá não deixa dúvidas quanto à sua verdadeira origem: Mossoró. Sua primeira declaração foi “oxente, já pagaram la cuenta?” Expliquei polidamente que quem tinha que pagar alguma coisa era ele, Arriá, pelo jabaculê de divulgarmos sua biboca no nosso prestigioso CANDIRU. Escapamos por pouco do terçado samurai do cozinheiro.

Na fuga, ainda gritamos em coro, à distância, o verdadeiro apelido de Arriá: “calango vesgo”. Pudemos ouvir, bem de longe, o cabra se esgoelando de ódio. Porque, essa é a verdade cristalina, por mais globalizado que seja, nordestino não gosta de apelido.

Cotação: passável

Fran Pacheco revela que foi abusado


Funerária Almir Neves – Em depoimento exclusivo numa tábua de ouija, o presidente emérito do Club dos Terríveis, o finado Fran Pacheco (R.I.P.), revelou em tom embargado que foi abusado repetidas vezes por uma tribo inteira de índias icamiabas, durante a conquista do Acre.

“Foi um pesadelo de dominação-submissão do qual nenhum homem deveria acordar”, soluçou entre um chope e outro, mostrando a título de prova material cicatrizes de arranhões nas costas e um muiraquitã em forma de tracajá, supostamente autografado pelas guerreiras ninfômanas.

“Foi o próprio Plácido de Castro quem me resgatou do cativeiro”, relatou Pacheco. “Nunca o perdoei por isso.”

Perto de comemorar seu sesquicentenário (embora não confirme a idade), Pacheco também fez outra revelação bombátisca: “Gertrude Stein queria casar e ter filhos comigo”.

A patronesse de 10 entre 10 artistas expatriados na Paris dos Anos Loucos o teria adotado como “mascote” e até rascunhado, embevecida “A Autobiografia de Fran Pacheco”.

“Problema é que seria uma relação muito à frente do nosso tempo”, ponderou. “Ainda não havia inseminação artificial e nem três garrafas de brandy me faziam encarar o dragão”.

No fim, como todos sabem, Gertrude ficou mesmo com Alice B. Toklas.

Aproveitando tão dolorosa oportunidade, Pacheco mandou avisar que aceita convites para exumar a carreira, que anda meio enterrada. “O que vier eu topo”, diz.

Vale comercial se autossacaneando, confinamento em reality show evangélico e até mesmo posar em revista de radiologia.

“Renato Russo anda me passando todos os macetes de como manter a carreira a mil no post-mortem”, confidenciou. 

Não está descartado um reencontro da formação original dos Terríveis para uma nova turnê de stand-up, cujo título provisório seria “Pega Aqui no Meu Incentivo Cultural”.  

Com tantas bandas-zumbis à solta por aí, nada como a volta dos verdadeiros mortos-vivos para dar um sopro cadavérico em nossa cena artística.

domingo, 20 de maio de 2012

Uma modesta Wish List…

 

Fran Pacheco


Que todos os tomara-que-caia caiam. Que todas as pelancas se recolham. Que nossos cheques nunca sejam descontados. Que o Tempo, que é dinheiro, pague todas as nossas dívidas. Ou que pelo menos apague os registros do SPC e do caderninho de fiado do português do boteco.

Que todos os operadores de telemarketing percam a voz (e levem junto pagodeiros, funkeiros, axés, breganejos e quejandos). Que todo cartão de crédito e assinatura de celular possam ser cancelados num estalar de dedos. Que a hedionda máquina de bater ponto seja erradicada da face da Terra. Que todos os supervisores, gerentes, capatazes e capitães-do-mato sejam defenestrados em gloriosa apoteose.

Que nenhuma célula-tronco se transforme em mais um pequeno filhote de político. Que a expressão “autoridade competente” deixe de ser um paradoxo. Que a Receita acredite de uma vez por todas em nossas não-declarações de renda (em troca a gente finge acreditar que o Estado funciona).

Que Mariana Godoy ganhe um programa diário de 18 horas de duração. Que Scarlett Johansson ofereça a todo homem de boa vontade seu abundante afeto (mas se ela for egoísta e se doar a um só felizardo, melhor ainda, eu topo). Que todo adolescente tenha direito a uma Mrs. Robinson no Bar-Mitzvah. Que nenhuma mulher sinta mais tesão pelo Chico Buarque.

Que a Organização Mundial do Trabalho reconheça a atividade do flaneur e que a ONU tenha por legítimo o direito inalienável dos povos de ficarem à toa por aí. Que seja instituída a licença-ressaca, proporcional à consumação. Que a indústria da cerveja expie seus pecados abastecendo perene e gratuitamente o freezer dos bicudos de bem.

Que a corrida tecnológica pare de tornar nossos computadores cada dia mais lentos que os da vitrine. Que finalmente, na imensidão do vasto mundo, haja uma vaguinha pra estacionar. Que o Google encontre a minha coleção de estampas Eucalol perdidas nos desvãos do tempo. Que todo humorista tenha direito à paisagem ipanemense da varanda do finado Millôr.

Que todas as noites cumpram o que prometerem. Que os “dias úteis” se tornem um mal desnecessário.
Que esta lista se realize.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Grandes temas eleitorais: “A Segurança”


Calouros do curso prático de cerimonial & etiqueta à mão-armada

Fran Pacheco

O Brasil não pode mais fechar os olhos para a questão da segurança.

Neste sentido, o primeiro passo é suplicar aos bandidos para que nos tirem pelo menos a venda da cara (um cigarrinho pra relaxar também ajuda).

Não menos intolerável é esta sensação de mãos atadas(*), que seria grandemente minimizada se os marginais usassem de um approach ergonomicamente correto na hora de nos jogar no porta-malas.

É urgente, portanto, que se aprove um Código de Conduta regulamentando procedimentos corriqueiros, desde o sequestro-relâmpago ao arrastão em condomínio – fazendo a coisa toda rolar sem aquele estresse desnecessário. 

É hora de, como dizem os cândidos candidatos, “encarar de frente o problema” e tornar obrigatório o uso, por parte dos transeuntes, do “dinheiro do ladrão”, sob alíquota de 25% do numerário total da carteira, não inferior a vinte merrecas na Região Norte/Nordeste e cinquentinha no Sul/Sudeste.

Penalidade para o infrator: pagar todo dia o “guaraná” do guarda. 

Urge incentivar o setor da Construção Civil, notadamente o de muralhas particulares (um programa “Meu Bunker, Minha Vida” iria bem).

Os mais tradicionalistas podem optar pela instalação de caldeirões de óleo fervente para despejar nos intrusos.

De qualquer forma, todas as propostas são negociáveis, desde que se pague o resgate às 4 da madrugada, sem vacilo.

O que a sociedade civil organizada não pode mais é ficar assim, de braços cruzados.

Especialistas garantem que o correto é levantar os braços.

(*) A sensação de impotência é de somenos, com a pílula azul à solta por aí.

domingo, 13 de maio de 2012

Memórias de um Eleitor Fantasma...


 Fran Pacheco

ESTE DIÁRIO PERTENCEU ÀQUELE QUE EM VIDA SE CHAMOU FRAN PACHECO. FAVOR INCINERAR ANTES DE MANUSEAR.

Manáos, 14 de julho de 1891

Que fim levou a dotação orçamentária pra segunda torre da Igreja de São Sebastião? Confiteor. Mea culpa, mea maxima culpa... Ó, Frei José dos Innocentes, não me venhas querer arrancar confissão de um anarchista. Só posso dizer que foi para a “causa”. Eu não peço desculpas de nada, mas podemos fazer negócio. Afinal, eu sei o que vocês fizeram com aqueles índios no verão passado. A indulgência tá saindo a quantos mil-réis? 

As delícias que chegam de Europa pela Booth Line. Gostei deveras dessa garrafa de Vin Mariani... 250 mg de coca por litro. Se até Sua Santidade, o Papa Leão XIII faz propaganda deste manjar... Dizem por aí que aquele intragável xarope de cola norte-americano do Dr. Pemberton leva míseros 7mg de coca por litro... Pfui... Mas afinal vamos começar a postar neste diário.

A primeira frase é sempre a mais difícil... “Era uma noite escura e tormentosa” seria o clichet da vez... Ou então “Concetta, luz da minha vida, fôgo da minha paixão”... “Call me Fran”.... “Mamãe morreu hoje, acho que vou tomar uma fresca”... “Famílias felizes são tôdas iguais, as penduradas em promissórias é que têm estilo próprio”... “Muitos annos depois, diante do pelotão de fuzilamento, eu, Fran Pacheco haveria de recordar aquela tarde remota em que meu pai me levou para conhecer biblicamente a anã polidáctila.”. “Pelo grito e pelo berro”... Nonada, deixo esses intróitos para os vermes que primeiro os plagiarem.

 

Manáos, de 26 de outubro de 1899

Preciso organizar melhor o meu tempo. Eduardo Ribeiro está a cem milhas náuticas por hora, recluso na sua chácara em Flôres, cheio de idéias tresloucadas para voltar ao pôder (apeado que foi pelos Néry, esses Bórgias dos trópicos) e quer meus valiosos palpites em tudo. Cismou agora em construir um verdadeiro Capitólio no alto da Avenida. Entre um tremelique e outro, oferece-me uns charutos de duvidosa procedência. Declino. 

Folheio os manuscritos do breve relatório do Dr. Euclides da Cunha no front bahiano, com a indicação “prezado Fran, empaquei na segunda batalha. Queres ser meu Conselheiro? Podes reescrever à vontade. Mas não me demores! Ou Júlio de Mesquita ameaça-me cortar os adiantamentos”. Deixa comigo, meu amigo nervosinho Euclides.  

Atenção, vou cunhar um termo: neojornalismo. Faço isso, Euclides, em retribuição à calorosa acolhida que a Sra. tua espôsa deu-me na Capital Federal, enquanto estavas nos sertões. Ah, aquelas madeleines de Donana... Já acrescentei ao teu pequeno rascunho umas duzentas páginas de abobrinhas no estilo mais empolado, positivista e sanitarista possível. Coelho Netto e Ruyzinho perdem. Tudo ditado sob o encanto da Fada Verde (70% de teor alcohólico). Será que vão entender a sutileza da minha, digo, nossa, digo, da tua sátira dionysíaca definitiva sobre este Brazil, ô Euclides?

Ponte Buarque de Macêdo, Recife, 20 de agosto de 1907

Os tremores não passam. A vertigem é intensa. Minhas articulações rangem. O suor é gelado e viscoso. E ainda por cima ácido. Tenho coceiras até no céu da boca. Meus dedos enegrecidos se contraem em posições obscenas, ao bel-prazer. Pólipos e baratas, milhares, miríades delas, brotam de casulos e inflorescências no teto de minha água-furtada. E riem, as hediondas canalhinhas! Sem nenhum dente na boca! Um coro mefistofélico: “Merencório! Merencório!” Meu corpo edemaciado é um rebotalho cósmico, aleijão de eras immemoriaes, dejeto da Criação. Já devo ter escarrado metade do meu sêr, evacuado dois terços das minhas nauseabundas tripas. Meus olhos estão em vias de afundar no crânio. Temo contemplar os arrebóis pela última vez. Nunca mais misturo rapé de paricá com aquele maldito chá de ayahuasca. Só podia estar passado! Ó Augusto dos Anjos, que cara de satisfação é essa? Pára de tomar nota desses disparates, peste! Toma um fósforo. Acende o meu cigarro. Se escapar dessa, te dedico um sonneto.

Copacabana, 07 de abril de 1952

 

Levo Virgínia pela primeira vez à Vogue. Secretária da Gastal, verdadeiro achado meu, a morena fica encantada. Antônio Maria não menos. O Gordo me cumprimenta, num misto de camaradagem e inveja. Antônio parece estar em pior forma do que eu. Continuamos fiéis ao juramento solene, feito junto com o Vinicius, diante de uns velhotes patéticos que faziam ginástica na praia: nunca, jamais faríamos qualquer exercício (e ainda gritamos “Canalhas!” para os patifes). Evidentemente, Virgínia não se inclui nesta vedação às atividades físicas de alto impacto.

A pequena acha que pau é duro toda vida. Tirou essa conclusão por experiência própria, de todos os sujeitos que já chegaram perto dela o bastante para conversar, ou para dançar, ou coisa pior. Só conhece o estado sólido da coisa.

Quem sou eu para abalar suas convicções?

(Em breve: o dia em que Jânio me entregou a presidência. E declinei.)

sábado, 12 de maio de 2012

Fran Pacheco acusado de engravidar noviças rebeldes



Irmãs montam guarda no convento para impedir nova incursão do espírito sedutor.
Percebam a satisfação dos semblantes...

Por Stella Maris

O festival de denúncias sexuais típicas de ano eleitoral atingiu em cheio o Club dos Terríveis. Irmãs do convento das Madres Cenobitas, nos confins da Botocúndia, denunciaram o falecido blogueiro Fran Pacheco nas redes sociais como sendo contumaz deflorador de carolas. O espectro bigodudo de Fran teria engravidado ao menos 27 noviças nos últimos 2 meses. Para isso, teria se valido dos mais sórdidos artifícios. Ora teria se passado por um zelador retardado, mudo e bem-dotado. Ora teria feito as vezes do Barão Von Trapp, cantarolando Edelweiss e atraindo as almas inocentes para o bote. Algumas noviças afirmam ter visto Fran ao natural, só de bigode e chapéu coco, fazendo traquinagens em seus claustros. A porta-voz do convento, Sóror Lisbela Espanca (150 kg), afirma ter sido ela própria “sondada” pelo defunto sedutor. “Ele estava só com um barrete de Bispo. O bafejo gélido do Fran está até hoje impregnado em minh'alma”, suspira a religiosa.

O depoimento de Sóror Espanca causou furor nas galerias da catedral, quando ela desceu aos detalhes mais picantes do suposto enlace. Em respeito à linha editorial deste órgão noticioso, preferimos omitir tais descrições. Podemos adiantar que o ectoplasma de Fran fez “barba, cabelo e bigode” na depoente, além das arrojadas posições tântricas “cossacos de Cossovo”, “minsk siberiano  e “sete anões ao mesmo tempo agora”. “O de cujus era um verdadeiro súcubo sexual”, afirmou a religiosa, com indisfarçável satisfação no rosto.

Procurado no cemitério S. João Baptista, Fran Pacheco nega tudo, exceto os elogios a seus atributos espectrais. Afirma que apenas “rodeou o convento” e “vez por outra dei umas entradinhas, para conferir os belos vitrais bizantinos. Jamais interromperia os serviços religiosos... No máximo, avaliei o estado de conservação dos claustros e do vestuário das noviças... Talvez tenha me manifestado para uma ou outra, mas de longe, a algumas polegadas... Raríssimas vezes travei um contato mais próximo e sempre contra a minha vontade. Não, não podem ter sido 27, até para mim seria demais...”

Fran considera tudo uma “armação” da Operação Rasga Mortalha, deflagrada por extintos órgãos de repressão (DIP, DOPS, PIDE etc.) para apurar possíveis falcatruas cometidas pelos Terríveis. Para ele, o caso está “natimorto” e desafia as querelantes: “elas que apresentem os curumins!” Quando informado que os piás de bigodinho estão sendo providenciados, Fran, meio acuado, prometeu só se manifestar por intermédio de seu advogado do diabo, Padre Quevedo. O velho e ranzinza jesuíta é radicalmente contrário às relações sexuais entre vivos e mortos, mesmo dentro do casamento. E vai logo avisando: “amante morto non paga penson! Isso non ecziste!”

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cinco blogues que fizeram História

Por Stella Maris 

Se você ficou de mouse caído com a desenvoltura com que gente como Zé Dirceu, César Maia e Mahmoud Ahmenidjad (sim, aquele iraniano que dorme com um hitler de pelúcia) já pontificaram no mundinho dos blogues e twitters, é porque ainda não viu o que seus antecessores andaram aprontando em priscas eras virtuais. Confira alguns exemplos garimpados do aterro sanitário da História:

Blog do Capone 

Direto de Chicago, o famoso abastecedor de biritas, amante das artes e sonegador desastrado tecia considerações e piadinhas diárias sobre propinas, óperas bufas, bebidas, execuções e muambas em geral. Criou um método gerencial e contábil até hoje copiado por empresas como Enron, Lehman Brothers e Daslu. Seus posts “Por que amo a Lei Seca”, “Como batizar um bourbon”, “10 super dicas para um massacre” e “Caruso é o que há” deram o que falar. Democrático, Capone dava aos leitores mais destemidos o direito de deixar críticas e xingamentos na caixa de comentários – mas se reservava o direito de jogar seus cadáveres no fundo do lago, em seguida. Por ter sonegado a conta do provedor de acesso, caiu em desgraça na comunidade virtual, tendo que postar no fim da carreira direto do cyber café de Alcatraz.

Blog do Bonaparte

Quando não estava ocupado fazendo os prussianos pedir penico em Austerlitz ou tentando afogar seu diminuto ganso na imperatriz Josefina, Napoleão aproveitava para atualizar seu blogue – um dos mais temidos de Europa. Metade dos exércitos continentais entrava em alerta máximo quando o pequenino blogueiro corso anunciava ter acordado “com o ovo virado”. Seu post “Que será que tem em Lisboa?”, embora fosse provavelmente uma citação ao filme Casablanca, foi o bastante para provocar a fuga desabalada de D. João VI, o Obrador, para o Brasil. Bonaparte acabou viciando-se em navegar durante o expediente, o que lhe custou a derrota para o desplugado Duque de Wellington, em Waterloo. Consta que no fragor da batalha Leãozinho estava num chat pra lá de animado com o velho Marquês de Sade (daí a expressão “blogar na posição em que Napoleão perdeu a guerra”). Morreu amargurado em Sta. Helena, cloaca africana sem acesso à Internet.

De Mãos Bem Lavadas – o Blog do Pôncio

O blog do barnabé romano @Pilatus ganhou súbita notoriedade após ter recebido a ilustre presença do Maior Psicólogo do Mundo. O blogueiro era conhecido até então apenas nos círculos íntimos romanos por ser chegado num TOC, lavando as mãos e as partes várias vezes ao dia (e twittando a respeito!). Sua célebre enquete “Quem vocês mandariam pra cruz?”, bateu todos os recordes de acessos na Judéia, verdadeiro milagre para a época. Acabou marcou a História dos blogs em Antes e Depois.

Blog do Rasputin

Mistura exótica de Paulo Coelho, Walter Mercado, Porfirio Rubirosa e John Holmes da Dinastia Romanoff, o sinistro Rasputin mantinha um blog de auto-ajuda, consolo e agendamento de favores voltado para beldades, princesas, grã-duquesas, tzarinas e o diabo a quatro (“o que vier, eu traço”). Lenine, o humorista bolchevique, tuitou a respeito: “Todo nobre russo é um corno em potencial diante de Rasputin. Rárárárá!”. Antes de ser colocado fora do ar por spammers com dor na testa, o brujo foi um dos primeiros a revelar que o Czar e o Tzar eram a mesma pessoa (dando início ao escândalo que culminou na Revolução Russa). Seu famoso joystick está conservado no Museu do Sexo de São Petesburgo.

Fotoblog da Lu

A espevitada socialyte Lucrecia Borgia, autora do bordão “Ai! Que mandrágora!” foi figurinha carimbada nas maiores noitadas de arromba da Renascença – sempre munida de uma camera oscura de 0,1 megapixel bolada por Léo Da Vinci. Clicou de tudo: envenenamentos, defloramentos, empalamentos, venda de indulgências papais e, lógico, surubas vaticanas de fazer tremer as catedrais. Seu post que mais rendeu os maiores RTs foi o “Virgo intacta sum, e daí?!!” (apesar de flagrada pela seita dos paparazzi com um barrigão de seis meses), o que causou o fim do seu casamento com Sforza, o Broxa. “Nunca houve uma mulher como Lulu”, gemia seu pai, o Papa Alexandre VI, o Fornicador. “Concordo plenamente”, arrematava seu irmão, Cesare Borgia, o Animal. “Altezas, ainda caberia nesse leito vosso humilde servo?” perguntava Maquiavel, o Marqueteiro, leitor compulsivo do blog.

Edgard - um conto macabro...

 

Fran Pacheco


Preso no engarrafamento de volta para casa, Edgard decidiu relaxar e ouvir um CD. Descobriu que a mulher trocara o disquinho de Jazz (“The Very Best of John Coltrane”) pelo “A Bíblia na Voz de Cid Moreira – Vol. XIX”. Tudo bem que Cid falasse ex cathedra, com conhecimento ao vivo dos acontecimentos narrados, mas aquela voz tonitruante – plena de eco e vibrattos de estúdio – soou para Edgard como todo o poder e a fúria de Jeová contra algo que ele, pobre Edgard, fizera mas ainda não confessara a si próprio. O mais desconfortante para o pecador Edgard era a sensação iminente de que, no meio do Deuteronômio, Cid fosse tascar um “Mister M, você é mesmo espada!”. Edgard, perdido na vida, moralmente esmagado pelo vozeirão do homem com o maior saldo de FGTS do país, desligou o CD e buscou abrigo em Sodoma e Gomorra – aqui representadas pela Voz do Brasil.

Chegando ao seu lar, Edgard, completamente chapado pela superexposição aos discursos parlamentares, decide ver o Jornal Nacional. Não que ele procurasse por mais Brasília ou pelo espectro zombeteiro de Cid em algum desvão do cenário futurista. Edgard queria ver a Patrícia Poeta e gols. Nada de política, não, nunca mais. Só a Poeta e o futebol, que é o Grande Nada, a irrelevância em chuteiras, um vício contraído antes da idade da razão, mas que para Edgard era algo bom e que o fazia sentir-se bem.

Poeta: “E a seguir os gols da rodada! Voltamos em trinta minutos...”

Bonner: “...logo após a propaganda partidária obrigatória...”

Edgard mal teve forças para se levantar do puff em que estava refestelado. Por suas pupilas entraram, implacáveis, rapaces, imagens promocionais do petebê, o decano das agremiações fisiologistas do país. Há poucos dias o mesmo Edgard fora exposto a trinta minutos de DEM, o sumidouro moral da nação. E, pouco antes, a um partido nanico capitaneado por um macabro Dr. Mangabeira. Mas era o petebê quem dominava os sentidos do imóvel Edgard. “Conheço esse papagaio-de-pirata que está sorrindo no meio dos ribeirinhos e puxando o saco do governador”, tremeu-se. Era o “Colecionador”, assim chamado por seu invejável acervo de CPFs. “Ele está a apenas um testículo de distância do Governo!”

Edgard, enojado, desviou o olhar para a janela. Carlos Lacerda estava lá, aboletado no parapeito, resmungando “chem-chem”, espanando as pequenas asas pretas. Edgard, tomado pelo horror, tentou chamar pela esposa, “Sônia, Sônia!”, mas a língua já estava enrolada. Incapaz de fechar os olhos, seu derradeiro movimento voluntário foi em direção à TV. Não conseguiu mais desviar o olhar daquela propaganda política. Ouviu apenas o corvo Lacerda crocitar a sentença fatal:

“Libertar-se-á de nós nunca mais. Nunca mais. Nunca mais...”


domingo, 6 de maio de 2012

Se meu baixo clero votasse...

Noviças rebeldes flagradas em pleno pecado da boca de urna.


Fran Pacheco (RIP)

O distinto aí já imaginou se a Igreja Católica em vez de uma teocracia, fosse uma democracia, ou melhor, já que estamos falando de ovelhas: uma ovinocracia? Se o rebanho tivesse conquistado (com procissões históricas) o direito de escolher um novo Papa por sufrágio universal? O pleito poderia se dar pelo sistema brazuca: uma cabeça batizada, um voto. Não importa se o sujeito é crismado, coroinha, tonsado ou carola; se sabe ou não recitar o Credo; se liga djá para o Walter Mercado ou faz despacho pra Yansã de quando em vez. Batizados em criança, todos seriam iguais perante a Sacrossanta Urna.

Já pelo american way, a coisa seria a little bit mais complicada: o eleitor teria que possuir um green-card bento. Haveria uma espécie de voto paroquial misto, via cartão perfurado, com a escolha de um clero eleitoral, que iria para uma votação indireta diocesiana, que seguiria para a escolha arqui-indireta arquidiocesiana, e assim por diante – até sobrar um felizardo, saudado com um mega-show de fogos de artifício (no lugar daquela fumacinha muxiba) e com a carolada cheia de bottoms e bandeirolas, gritando em S. Pedro Square: “We have a Pope!”.

Fosse qual fosse o sistema eleitoral, a barulheira seria grande. A polêmica começaria na distribuição de santinhos. Os candidatos disputariam a tapa a aliança com os ditos-cujos: “Cardeal Noël ganha apoio de S. Nicolau de presente”; “São Sebastião é Cardeal Margarida – por um papado alegre.”; “Candidato Azarão Dom Barrichelotto ganha apoio de S. Judas Tadeu e tem fé na vitória”; “São Longuinho é ey-ey-Eymael”. Como, minha senhora? O Eymael, o “democrata cristão”? Sim, sim, pelo Direito Canônico, qualquer católico pode ser eleito Sumo Pontífice! Basta “ser homem, com pleno uso da razão”. O que pensando bem impugnaria metade dos candidatos, se passados num teste de madureza. Além do quê, o requisito dos cromossomos XY cortaria as asinhas de todas as papisáveis, para cólera das sufragettes.

Haveria tudo a que uma campanha qualquer tem direito: muito conto do vigário, distribuição eleitoreira de indulgências, tentativas arbitrárias de excomunhão contra adversários, propaganda irregular em campanários, revelação de segredos de sacristias, uso desregrado de Photoshop (até sob a batina) e aquelas vinhetas de TV, com o os candidatos segurando criancinhas  (toc! toc! toc!) e visitando obras de novas capelas, com o rosto e os sovacos suados de tanto ministério. Além de promessas miraculosas. Pesquisas eleitorais seriam usadas só para “consumo interno”, como segredo de confessionário.

No dia da Grande Eleição, a segurança em paróquias conturbadas seria garantida pela Guarda Suíça, com trajes medievais e tudo (vale o apoio dos Dragões da Independência na retaguarda). Durante a apuração, não faltariam denúncias de fenômenos como a multiplicação de votos. A Justiça Canônica, no entanto, lavaria as mãos. Ao final das contas, “consummatum est”.

E quem não gostasse que fosse reclamar ao bispo.

sábado, 5 de maio de 2012

Cadê o Abba do meu Channel?


Por Ishtar dos 7 Véus, a Hedonista



Hedô em deprê depois de ouvir 666 vezes "Oh, If I Catch You"...

Tô deprê... Sim, meus queridos e fofuchos leitores, até uma mulher hype-dance-in-pop-kitsch-tudo tem seus momentos de depressão... Fim de semana chuvoso, friozinho, aquela música do Teló tocando no quarto da empregada sem parar... Aqui estou eu, agarrada ao meu Barbapapa de pelúcia, em posição fetal, tão comigo mesma, encolhidinha, mil pensamentos na cabeça... Cadê Jean-Michael Vincent? Cadê Djenane Machado? Cadê Élida Lastorina? Cadê o cachorrinho pequinês? Oh meu Deus!!! Alguém pode me dizer por misericórdia o que aconteceu com os pequineses? Sim... Aquela raça que foi um must nos anos 70 e 80! Todo mundo tinha um pequinês... Ou pelo menos, já foi incomodado por aquela gracinha peluda, de dentes salientes, olhinhos esbugalhados e um humor do cão (ai, que redundante!). Prometo que farei uma investigação sobre o assunto. Ai, de repente me sinto tão Dana Sculy em Arquivo X. Já posso me ver levantando às seis da matina (ui... momento realmente de ficção dessa colunista) e abordando as senhoras do edifício Aruba no calçadão da Black Point... “Escuta aqui vovó... Não se faça de desentendida! Tire esses óculos enormes da cara e me diga logo o que fez com o seu cachorrinho pequinês!” E eu toda modelito aeróbico, na Ponta Negra, dando uma dura numa velhinha... oops, sorry... numa “representante da terceira idade”: “A senhora lembra sim! Pequinês... baixinho, peludinho, chatinho... Não, não me venha com este poodle! Isso aí é um gremlin disfarçado! Tá querendo me enganar, é?”

Seriam os poddles disfarces para os pequineses? A troco de quê? Seriam os pitbulls, na verdade, pequineses que sofreram mutações? (pausa para a colunista morder o dedinho e ficar com um ar pensativo... Quem disse que eu não tenho um ar pensativo?) Aaaah... não adianta fofuchos. Sei que vocês vão mandar e-mails do tipo: “Saia dessa deprê, Hedô... A gente te ama!...” Mas não vai adiantar. Sabe como é mulher de aquário, né? Emotiiiiva, frágil, carente. Sinto que nada nas próximas 24 horas me fará levantar da cama, largar meu Barbapapa e sorrir para o mundo.

Nem se Alec Baldwin tocasse o interfone e dissesse que está me esperando lá embaixo, cheio de amor pra dar. Não, não... Nem se Alec e William Baldwin estivessem me esperando lá embaixo... Tá... Se os dois estivessem lá, eu daria uma olhadinha de leve pela janela. Nem se Alec, William e Stephen Baldwin estivessem me esperando lá embaixo... Tá, tá, tá! Me jogaria pela janela direto para os braços dos bofes-Baldwin, cantando uma versão de “It’s Raining Men” chamada “It’s Raining Me”. Uma mulher moderna sabe que depressão não é sinônimo de burrice. Aprendam. (Pausa para um suspiro saudosista).

Coloco “The Winner Takes It All” na vitrola (of course que eu tenho uma vitrola). Nada como o grupo Abba pra fazer a gente refletir sobre a condição humana... E eu que pensava que aqueles suequinhos fofos nunca se separariam... Ilusão... Mulher de aquário, né?... Me lembrei do clipe dessa música: Eles estão numa mesa de restaurante, bebendo, rindo, felizes, enquanto a lourinha Agnetha canta, séria, emburrada. Eles passeiam pela praia, rindo, felizes... Agnetha canta, séria, emburrada. Eles se abraçam, rindo, felizes... Agnetha cant... Pra falar a verdade, o clipe acaba justamente quando eu jurava que Agnetha daria um pití, armaria o maior barraco e desceria o cacete em seus companheiros, gritando (em sueco): “Porra, eu aqui me esgoelando pra cantar essa musiquinha triste e vocês rindo feito umas hienas. Tão gozando da minha cara, é? Só porque eu errei no tom da minha tintura, é? Só porque a maquiadora do clipe resolveu me sacanear e colocou um quilo de maquiagem na minha cara, é? Só porque eu tô parecendo a Emília do Sítio do Picapau Amarelo, é? Rindo de quê? De quê? Que porra de felicidade é essa?”

Para falar a verdade, vendo o clipe de “The Winner Takes It All” e o humor de Agnetha você percebe que aquele grupo não duraria muito não. Pena. (Pausa para enxugar uma lágrima furtiva. Mulher de aquar... ah, deixa pra lá!). Beijitos. PS: Não dava pra esse tal de Teló ter furado a fila do Wando, não?...