sábado, 28 de abril de 2012

Operação Rasga-Mortalha tenta intimidar Terríveis



Suspeitos detidos durante batida contra o Club dos Terríveis
têm a aura fotografada para detectar a presença
dos espíritos zombeteiros. 

Por Stella Maris (R.I.P.)

É com pesar, indignação e revolta que denunciamos tentativa deslavada das forças ocultas destte Estado em denegrir a imagem de membros do Club dos Terríveis. Usando-se de fallecidos órgãos de repressão como DOPS, DIP e DOI-CODI, os sacripantas desencadearam a operação “Rasga-Mortalha”, contra supostas falcatruas cometidas entre 1890 e 1910, em Manáos. As fraudes referem-se a títulos podres da República Velha, favorecimento de construtoras Inglêsas, superfaturamento em obras de monumentos históricos, além de remessas illegais de sementes de Hevea brasiliensis para paraísos surfistas na Malásia.

“São causos requentados, seculares, mofados, que de geração em geração tentam jogar contra nós. Debalde”, affirma o presidente do Club, Fran Pacheco, escondido no sótão de um centro espírita.

A operação foi desencadeada religiosamente à meia-noite, quando um forte aparato policial prorrompeu no Cemitério S. João Baptista, na Villa Municipal, área mais nobre da cidade. Na tumba de Fran Pacheco (ao lado do Ossuário do antigo cemitério de São José) os meganhas apreenderam uma lápide em mármore de carrara, supostamente produzida por Doménico de Angelis, representando Baco, supostamente em ação. “Uma peça de arte mortuária incompatível com os rendimentos de um notório farrista”, asseverou o Sr. Filinto Müller, porta-voz das forças de repressão. Velas fálicas, plantadas no local por alcagüetas, foram apreendidas como material pornográfico. Também foram encontrados, enterrados, frascos de Heroyna e Morphyna, além de clisteres em vários calibres “Todos sabem que eu era um homem doente, mas nem tanto”, defende-se Fran. Símbolos célticos riscados no chão foram apontados como “forte indício de suruba”, por uma fonte que pediu anonimato. “As maluquetes da cidade sempre confundiram o meu túmulo com o do Jim Morrisson”, explica Fran.

Não satisfeitos, uma equipe liderada pelo finado delegado Sérgio Paranhos Fleury assombrou a residência de um coleccionador no Boulevard Amazonas e apreendeu dois fords-de-bigode em escala 1/12, 3 garrafas de absinto a 85% de teor alcoólico, uma Mauser Parabélum da I Guerra Mundial, selos, cartões postaes e vasta coleção de apetrechos eróticos “vintage”. “Usar estes utensílios enferrujados é um atentado ao pudor e à saúde coletiva”, disse o delegado, guardando diligentemente o material em seus bolsos.

“O alvo não sou eu”, afirma enigmáticamente Fran Pacheco. Que se cuide o médium responsável por psicografar o blog. Fran finaliza: “continuo na trincheira e vou colocar todos esses que aí estão em seu devido lugar. Quem viver, verá.”

Passada a tormenta, resta a questão: sobreviverão os Terríveis ao pleito de 7 de outubro?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Meus baratos com Eduardo Ribeiro...





Fran Pacheco (R.I.P)

Antes de mais nada, preclaro leitor, uma coisa tem que ficar bastante clara. Quando eu falo de História não me baseio, como fazem os acadêmicos de plantão, em relatos de tataranetos, livros mofentos, ou no mais puro chute. Não, nada disso. Eu estava lá.

Estava, quando o governador mulato-maluco-beleza Eduardo Ribeiro (“O Pensador”) detinha-se melancólico, com seu cavalo parado à beira do Igarapé da Cachoeirinha.

O negócio é que para sair do Palácio do Governo, ali na Praça D. Pedro I (atual zona do baixíssimo meretrício) e chegar nos arrabaldes da Cachoeirinha, só pegando uma catraia. A cavalo, nem pensar. Isso pelos idos de mil oitocentos e noventa e pouco. 

Ganhei muito dinheiro naquela época. Libras (do tipo esterlinas) de uns trouxas ingleses na mesa de bilhar do Hotel Cassina. A coisa mais fácil do mundo é ganhar de bêbado no bilhar. E meu organismo era imune a várias doses de absinto e gim. 

Meus negócios eram sortidos e, em geral, controversos. 

Eu era, além de anarquista, uma espécie de lobista avant-la-lettre desses súditos da Rainha Vitória (e a véia não morria). Sabia que o Governador queria ordem e progresso, e o numerário era tão farto que acendia até charutos (eu vi). 

Com a palavra, Ribeiro, na abertura do anno legislativo de mil oitocentos e noventa e pouco: “Posso affirmar que os recursos de nosso Estado são inexgottaveis!”
 
“Então, Excelência”, eu dizia, “somos os caras certos para resolver o seu problema. Quer ligar o Centro àquele cafundó chamado Cachoeirinha? Façamos a Ponte, pois!” 

Nesses momentos, ele entrava em um de seus surtos e imaginava não uma ponte, mas uma rede de túneis. Túneis debaixo dos igarapés. Queria túneis com marias-fumaças passando por baixo de tudo, tal e qual o metropolitano de Londres. Eduardo Ribeiro é hoje nome de avenida e de hospício. 

Entre um delirium e outro eu o convenci a fazer a Ponte Metálica que até hoje está lá. Sugeri batizá-la de Ponte Mikhail Bakunin. Entenderam Bacuri. Batizaram de Benjamin Constant, um porco positivista que era ídolo dos milicos da época (Eduardo incluso). 

Bem, deu pra ganhar um bom dinheirinho. E qual não foi a alegria dos cidadãos manauaras no dia da inauguração!  Manáos já curtia uma inauguração de elevados desde sempre.

E qual não foi a alegria de Eduardo Ribeiro naquela mesma noite, passado o festejo, quando enfim teve resolvido o grave problema e pôde atravessar a ponte a cavalo, para encontrar-se com sua fogosa amante, que morava do outro lado. 

(Em breve: como criei a cúpula do Teatro Amazonas)

domingo, 15 de abril de 2012

Além da Cúpula de Las Américas

Foto oficial do 1º Fórum Transamericano de Lortos (Bairro Castro, Pelotas)

Por Stella Maris

Todo ano é o mesmo roteiro maçante: Cúpula das Américas ali, Fórum Econômico de Davos acolá e outra penca de encontros turísticos de potentados, cujo único resultado prático são aquelas indefectíveis “cartas de intenções” – sempre extraviadas nel mezzo del camin.

Mas nem só de temas soporíferos, como a nova aflição social do Bono Vox, vive o mundo dos meetings. Noutros quadrantes rola muita coisa interessante em eventos alternativos e descolados. Confira e programe sua próxima escala de turista militante: 

Congresso de Pessoas Altamente Preocupadas com a Saúde

“Hipocondríase” é palavra proibida neste fórum. Pergunte a qualquer um dos presentes, em meio a test-drives em UTIs móveis, degustação de antibióticos, sorteios de clisteres king-size, leituras dramáticas de bulas, pré-vendas de novos comprimidos anti-morte-súbita e eleição do melhor lugar da cidade para se vomitar: “O Sr.é hipocondríaco?”; Resposta: “Não, minha filha. Graças a Deus essa é a única doença que eu não tenho”. 

Confraternização Global dos Misantropos, Ermitões e Insociáveis Crônicos 

Embora os ingressos tenham esgotado, ninguém apareceu. Fiasco só comparável ao do Congresso Internacional dos Procrastinadores de 1968, cujos participantes mais afoitos prometem finalmente ir no ano que vem – se tudo conspirar a favor. 

Fórum Nacional dos Imitadores de Paulo Francis 

Essa espécie ameaçada de extinção desde a morte do jornalista mantém acesas as chances de trabalho de qualquer imitador fuleiro, como Tom Cavalcante e João Kléber. O que seria dessa raça sem um Maluf, ou um Sílvio Santos para arremedar? 

Reunião Secreta dos Grandes Mestres do 171 

Oportunidade única para os trouxas e otários que superpovoam o planeta aprenderem as mumunhas da alta malandragem. Ao som interminável da musiquinha do filme “Golpe de Mestre”, um full hand de workshops sobre toda variedade de expedientes com os safos e bambas. Milhares de curiosos compraram os ingressos da última edição pela Internet.  E, que supresa – era tudo golpe.

Rodada Intercontinental de Estudos Irrelevantes 

Discutir o sexo dos anjos é matéria levada muito a sério nesses acalorados debates sobre “Oceanografia Tibetana”, “Urbanismo Cigano”, “Geografia do Vaticano”, “Kama Sutra para Abstinentes”, “Instituições Revolucionárias” e “Perlocutória da Escatotécnica”. A mesa-redonda mais aguardada será o polêmico painel “Se em Sodoma eles praticavam sodomia, que diabos faziam em Gomorra?”

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O enrugadinho é mais embaixo



Por Cezário Camelo (Cecezinho)
As rugas são sinais de vida. Ou de morte, dependendo do lado do balcão em que você está. Cedo ou tarde aparecem e tomam conta das nossas expressões faciais. E a gente é obrigado a ter vergonha na cara por uma razão errada. As rugas dividem o rosto em pedacinhos do passado. Dão identidade à existência de cada pessoa – exatamente o documento que as mulheres odeiam. Financiam as bocas livres do Pitangui. São proibidas nas ilhas de Caras.

As rugas marcam o passar dos anos pela epiderme e a velhice é a sua marca registrada. E você sente tudo isso na própria carne. Porque as rugas botam pregas na vaidade de todo mundo. Mesmo os maiores velhacos da política (sei da redundância e vocês podem colocá-la no buraco apropriado) não escapam do julgamento das rugas. Pra comprovar, basta observar o rosto alquebrado do Edison Lobão ou do Capiroto enegrecido sem as mágicas do Photoshop. É de dar pena.

Quem fabrica rugas é o tempo, com norráu para todos os tipos de pele – inclusive a do saco escrotal e do seu vizinho, ali ao lado. Quem tem intimidade com as rugas são os espelhos. E quem diz que as rugas refletem a idade não está totalmente enganado: está totalmente enrugado. Mesmo não sendo metrossexuais, cuidem das suas rugas, porque elas têm uma imagem a zelar. O enrugadinho é mais embaixo.

Existem vários tipos de rugas, todas com muita experiência. As mais comuns, mais assíduas e mais rugosas são estas:

Surpresa – Na testa. Ruga de receber visitas inesperadas, do encontro casual com um deputado salafrário (sei da redundância e vocês podem etc, etc, etc), de ver truque de mágico, de ouvir a conta salgada no restaurante barato. Ruga fingida quando o presente de amigo oculto é gravata outra vez. Ruga imensa quando anunciam que você vai ser pai de três crianças ao mesmo tempo. Ruga surpreendente de ser convidado para participar de uma tramóia do Cadeirudo.

Preocupação – Também na testa. É uma ruga ativa: não sai do lugar por nada. Ou melhor: por tudo. É uma ruga grande, rugona, verdadeiro bitelo. Ruga de quem tem um súbito desarranjo intestinal na hora em que entrou no quarto com aquela lebre que vinha sendo cantada há seis meses. Ruga responsável. Ruga de fim de mês. De meio de mês. E de início de mês. Ruga assalariada, meus caros.

Orgulho – Ruga acima do nariz. Quem tem orgulho de não ter rugas, tá com ela. Ruga de quem venceu na vida ou na fila. Ruga de quem foi nomeado para uma sinecura federal. Ruga que só usa a melhor maquiagem da Victoria’s Secret. Esta ruga se acha mais ruga do que as outras. Ruga de quem acertou sozinho na megasena acumulada. Ruga orgulhosa da gente, claro.

Tristeza – Pelos lados (de fora) da face. Esta ruga tem hora e tem motivos. Seus sulcos vão até a fossa. Ruga treinada em velórios, despedidas, fim de amor, dor-de-cotovelo, demissões sem justa causa, chifres sem motivação aparente, operações bariátricas mal-sucedidas e visitas ao cirurgião-plástico. Ruga abandonada à flor da pele.

Tensão – No pescoço ou no queixo. É a ruga do ponto crítico. Que surge nos piores momentos. Que, no fundo, no fundo, só quer saber de relaxar. A cara das pessoas fica muito feia quando esta ruga explode pelos poros. Ela não se contém nos dias e nos rostos de hoje. Foi por isso que inventaram o carnaval.

Desânimo – Mais uma nos lados da face. Ruga que não se esforça para sair do rosto. Ruga conformada, sim. Ruga que vem para ficar, sem ânimo para aceitar a companhia da ruga do riso ou o disfarce de um pó compacto. Ruga entregue aos traços. Ruga de pensionista em fila de banco.

Obstinação – Ali embaixo do lábio inferior. Ruga de governador ou prefeito quando manda um orçamento para ser aprovado na íntegra pelo legislativo. Ruga teimosa, que sabe o que quer. Ruga burra, que não argumenta. Ruga determinada a ver tudo com antolhos. Ruga pra hora de bater com a colher no prato. Ruga pro vinco que der e vier. De não arredar prega. É a famosa ruga do beiço e está sempre nas bocas.

Falsidade – Ruga disfarçada. Ruga popular. Ruga que nunca conheceu lealdade em nenhuma parte do rosto, apesar de estar em todas. É uma ruga capaz de enganar até a si própria. Ruga disputada a tapa pelos políticos, desembargadores, juízes e advogados de porta de cadeia.

Desgosto – Na parte inferior do rosto. Ruga grossa, ruga dolorida, molhada em lágrimas. Ruga profunda, ruga marcante. Ruga que se aborreceu com a existência em geral e a sua vida em particular. A ruga que vem das rusgas. Ruga de quem já levou tanto nabo na bunda que ganhou hemorróidas. Ruga nossa de cada dia.

Resumindo: as rugas todas são como a nossa cara. Ou coroa.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

De Gargantas e Bocetas


Por Fran Pacheco, na fila do gargarejo do Cine Guarany

Para início de conversa, ruborizadas senhorinhas, boceta vem do provençal boiseta e ainda conserva em Portugal e alhures o castiço significado de “caixinha” – mormente aquela que se usa para cheirar rapé. Mas ninguém aqui cogita de fungar o rapé da boceta de ninguém, embora o assunto em tela seja sacanagem – sem se recorrer ao humor fácil (ou de vida fácil?). 

Momento Caderno 2 
Foi a mitológica, arquetípica e criada do barro Pandora (“a mulher de todos os dons”), em tempos imemoriais, habitados por gregos, quem primeiro abriu sua caixinha de maldades, liberando todas as desgraças do mundo. Deu no que deu. A “Boceta de Pandora” tantas fez que caiu na boca do povo, na peça de Wedekind, na ópera de Berg e na tela do cinema, em diversas encarnações, sendo a de Pabst (estrelada por Louise Brooks e seu inesquecível channel) até hoje a versão standard no inconsciente coletivo cinéfilo.

Do cinema veio outro mito que paira sobre o cenário político atual: a “Garganta Profunda”. Como sabem as calejadas mãos dos scholars da ars pornographica, a angelical Garganta (encarnada pela desinibida Linda Lovelace no clássico de 1972), certa feita descobriu que tinha o clitóris no lugar da úvula (aquele pinguelo nas entrada da garganta). Nota pertinente: que fique estabelecido d’uma vez por todas que é clitóris e não clítoris. Independente do tamanho.

A descoberta da mutação marota fez com que La Lovelace colocasse a boca no mundo (ou todo mundo na boca, melhor dizendo), inspirando os jornalistas do NYT, Bob Redford e o pequeno Dustin Hofmann (vulgo Tootsie) a batizarem seu alcagüete de Garganta Profunda, no escândalo sexual conhecido como “Todos os Homens do Presidente”. (O absinto bateu. Faço as correções factuais outro dia.) 


Yes, nós temos Gargantas
Trazendo a mitologia greco-noviorquina para o lado de cá do Equador, fica evidente que o Bananão deve muito aos e às Gargantas. Seja o irmão aluado que num surto contou tudo sobre o presidente collorido; o motorista que expôs as misteriosas idas e vindas na Casa da Dinda; o alto funcionário tarado - preso por matar a esposa - que entregou os Anões do Orçamento; a mal-amada, que está em todas, ou o ex-genro que revelou as peripécias do Juiz Lalau, . Um panteão de tipos díspares, abarcando todo o espectro do (mau)caráter humano. A PF morou na filosofia e não por acaso batizou de Caixa de Pandora a operação que defenestrou o Arruda e sua careca do Palácio do Buriti.

O problema é que essa é uma profissão de risco e sem estímulo – exceto uns tapinhas nas costas, se o Garganta tiver sorte. Mais provável é ter a goela cortada. Dese jeito, que enlevo terão os futuros Gargantas, para filmar as miríades de negociatas ora em curso, com suas maravilhosas micro-câmeras? A bem do registro histórico, tudo deveria ser meticulosamente gravado, tanto por quem dá quanto por quem recebe – e que mais cedo ou mais tarde, na primeira "divergência política", uns divulguem as imagens contra os outros e se comam vivos.

Somente com muita bagagem um mero Garganta pode ser promovido a Pandora, com sua caixinha de maldades abarrotada de fitas VHS, cassetes de ligações grampeadas, memorandos comprometedores, comprovantes de tranferências, depósitos e aberturas de contas no estrangeiro, e o filé-mignon, os robustos dossiês contra seus pares. Quanto maior a boceta, maior o estrago.

Será o Nextel do Cachoeira a nossa primeira Pandora eletrônica? Será que, quando sua garganta digital for totalmente decifrada, baixaremos mais fundo rumo à infâmia absoluta? Acho que já baixamos, ô bacana. Só não sabemos em que andar do subsolo fomos parar. Quem sabe descubramos quando numa dessas CPIs a Pandora abrir de vez a boceta.

***

P.S. Tanto Linda como Louise já deixaram o mundo fenomênico para trás. Sorte a minha. Com licença, que eu vou cheirar rapé.

sábado, 7 de abril de 2012

Achados e Perdidos


Que Elvis, JFK, Jimmy Hoffa, Belchior e outros desaparecidos não morreram, até Demóstenes Torres está careca de saber. O que talvez não seja de sua ciência é que além destes, muitos outros VIPs decidiram sair da História para cair de novo na Vida. Graças a denúncias pseudônimas, conseguimos flagrar uma galeria estrelada de ectoplasmas fujões. Confira e, se encontrar Janis Joplin doidona por aí, espalhe no Face:

Jorginho Guinle
Entrou na fila do programa “Primeiro Emprego” do Governo Federal. Mas não corre o risco de pegar no batente já que a fila não anda mesmo. Enquanto isso, o bon-vivant curte um rien à faire regado com savoir-vivre, morando de favor na pérgola do Copa.

Madre Teresa de Calcutá
Rasgou o hábito e caiu na gandaia, desde que a cantora Sandyjúnior confessou no último LP que não é Madre Teresa. “Agora a pirralhada vai parar de me encher o saco pedindo autógrafo”, comemora a religiosa, com a dicção um pouco prejudicada por um piercing mal aplicado por Zé Arigó.

James Dean
Teve a carteira de habilitação cassada. Contraiu matrimônio com Rock Hudson, com quem vive aos tapas e ósculos em Amsterdã, no mesmo flat do casal Cary Grant / Randolph Scott. Vez por outra Marlon Brando tenta arrombar a porta aos gritos de “Stella! Steeellaa!”

Kurt Cobain
Internou-se num spa de desintoxicação para viciados em roleta russa. Ernest Hemingway – outro habitué do local – garante o menino está fazendo progressos.

Mahatma Gandhi
Cheio de filhos para criar na Bahia, repaginou o visual, fazendo uma cirurgia ayuvédica de redução estomacal. “Eu não aguentava mais passar fome durante minhas greves de fome. Decidi cortar o mal pelo epigástrio”, explica por telepatia. “Eu vivia me empanturrando à base de uma azeitona e um copo de Shiva Regal ou Brâma Chopp por dia. Me sentia empachado”. Agora com vinte quilos (declarados) distribuídos pelo corpitcho, passa o dia praticando desobediência civil contra a Lei da Gravidade, levitando sobre o Ganges.

John Lennon
Continua faturando alto em cima do próprio espólio, desde que adotou a identidade de Ioko Ono. Como se sabe, a verdadeira Ioko morreu de haraquiri no mesmo acidente automobilístico que matou Paul Mcartney, Chico Viola e José Wilker, em 1966.

Friedrich Nietzche
Após ter denunciado que “Deus está morto e eu sei quem foi”, vive sob os cuidados do programa de proteção às testemunhas de Jeová. Mesmo jurado de morte por pré-socráticos fanáticos, ainda costuma dar uma canja no Carrossel da Saudade, cantando seu eterno hit “Medo de Avião”.

Euclides da Cunha
Eleito “Cidadão Honorário da Cornualha”, continua esquentadinho e decidiu ir às vias de fato com Zé Celso Martinez Correa, que encenou “Os Sertões” com a bunda de fora. Zé Celso saiu ileso. Euclides continua atirando mal paca.

Che Guevara
Após o sucesso da série porno-marxista “Hay que Endurecer! I, II e III”, foi escalado para o novo filme de Almodóvar, onde fará o papel de um padre travesti judeu negro anão homossexual e com uma perna mecânica, completamente prafrentex. Vai doar o cachê para as Farcs.

Adolf Hitler
Deixou crescer o resto do bigodinho e nunca mais foi reconhecido por caçadores de nazista (apenas por correligionários do deputado Greenhalgh). É fã declarado de Geroge W. Bush (“Esse é dos nossos”). Reúne-se todas as noites com Stálin, Mao Tsé Tung, Jorge Bornhausen e o mascote da turma, Pol Pot, para uma acalorada partida de “War II”. Foi muito bem acolhido e diz que nunca mais quer sair da Argentina.

Topo Giggio
Decidiu acabar de vez com as insinuações de que era bicha. “Nunca ouviram falar de transgênero não, seus leigos? Retrógrados!”, exalta-se o roedor, do alto de um salto plataforma. Atende na Via Ápia. Nom de guerre: Minnye.

Toulouse Lautrec
Promete para breve concluir a pintura do monumental rodapé da Capela Sistina.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sexo, Mentiras & Tabuleiros



Por Stella Maris, do Centro de Treinamento Poliesportivo & Recreação do Puraquequara

Um fato nada olímpico ocupou as manchetes desportivas desta semana. A bombástica separação da supermodelo e astrônoma Svetlana Schuparova e do êneacampeão mundial de xadrez, categoria meio-médios, o brasileiro Vladimir Vladimirovich Vladimir.“Acabou”, decretou Schuparova, após 24 horas de vida conjugal.

Tudo começou na entrega do Prêmio Nobel-Davène - pela primeira vez realizada em Trancoso - quando Schuparova tornou-se a única intelectual do planeta a ser agraciada em duas categorias diferentes: “Simpatia” (sua desenvoltura ao não responder a pergunta sobre “teoria da gravitação quântica num cenário de hiperinflação argentina” cativou a todos) e “Lábios Mais Carnudos”, desbancado o ex-ator Wesley Snipes.

Vladimir compareceu à mesma cerimônia como atração de honra e disputou no octógono 112 partidas simultâneas com chefes de estado, sendo batido apenas por Fidel Castro (embora observadores internacionais afirmem ter visto Chico Buarque e Fernando Morais embaixo da mesa, bagunçando as peças de Vladimir nos intervalos).

Apesar do esgotamento neuronial, Vladimir e Schuparova trocaram olhares estrábicos e casaram-se na mesma noite em cerimônia comandada por Valter Mercado.Um estenógrafo foi chamado às pressas para redigir as 120 cláusulas do contrato pré-nupcial. Era mais um excitante lance na biografia de nosso campeão.

Garoto de origem humilde, Vladimir nasceu na isolada Capão do Muro Baixo, cidade com menor índice de PhDs do país. Muito cedo os pais o despacharam por carta registrada para Kamchatka, na Sibéria. “Aqui seu único futuro é ser beijado por político em campanha, meu filho”, disse o velho Vladão enquanto selava o envelope.

Após aclimatar-se, o pequeno Vladimir, apesar dos dentes cruzados, dos dedos tortos, dos 45 graus de hipermetropia, das bexigas, do lumbago, das doenças venéreas, do membro desproporcional e da incapacidade em assinar o próprio nome (só conseguia escrever a palavra “bongô”), logo mostrou aptidão para o esporte mais popular no mundo: o xadrez.

Suas aberturas desconcertantes, o gingado malandro dos peões, o genial drible do cavalo, o xeque-mate de folha-seca e o efusivo soco no ar após as vitórias logo e cativaram uma legião de fanáticos e violentos torcedores, os "Peões da Fiel". Grito de guerra: “Pensa, Vladimir! Pensa!”

Vladimir nunca jogava na retranca, jamais catimbava, nunca aparecia nos treinos. Partia pra cima da linha adversária fazendo o maior estrago. O bad-boy do tabuleiro se dava ao luxo de deixar todas as suas peças serem comidas pelo incauto oponente, para aplicar-lhe um acachapante cheque-mate só com o rei.

Sua partida mais rápida deu-se contra o então campeão mundial, o russo-camaronês Porris Luambala. Visivelmente nervoso (a camisa de força desalinhada, o babadouro todo manchado), o velho campeão observou atônito o esguio Vladimir, logo no primeiro movimento, pegar o peão, ameaçar colocar a peça numa casa, depois, noutra, de um lado para o outro, do outro para o um, e assim por alguns segundos de pura magia, até mover o peão para a frente – para delírio da torcida, que gritou o tempo todo “Olé! Olé!”. Tonto e abalado, Porris Luambala simulou um “compromisso urgente” e abandonou o páreo.

Vladimir esteve perto de ser derrotado de jeito uma única vez, no fim de 1999, pelo supercomputador Bucefálus 12.5. Na hora H, foi salvo pelo bug do milênio, que fez o sistema do oponente retroceder um século, reduzindo-o a uma máquina registradora.

Schuparova foi o 15º casamento relâmpago de Vladimir, cuja fortuna pessoal está no infravermelho, com uma muralha da China de advogados, profissionais da noite e bookmakers cobrando-lhe honorários. Desiludido e cansado de ser paparicado pelas pessoas por seu “cerebrozinho bonito”, o campeão decidiu repaginar o visual e acaba de se internar numa funilaria. Promete lançar um CD de breganejo, assim que terminar de treinar a dicção com as cabras de sua fazenda.