domingo, 6 de maio de 2012

Se meu baixo clero votasse...

Noviças rebeldes flagradas em pleno pecado da boca de urna.


Fran Pacheco (RIP)

O distinto aí já imaginou se a Igreja Católica em vez de uma teocracia, fosse uma democracia, ou melhor, já que estamos falando de ovelhas: uma ovinocracia? Se o rebanho tivesse conquistado (com procissões históricas) o direito de escolher um novo Papa por sufrágio universal? O pleito poderia se dar pelo sistema brazuca: uma cabeça batizada, um voto. Não importa se o sujeito é crismado, coroinha, tonsado ou carola; se sabe ou não recitar o Credo; se liga djá para o Walter Mercado ou faz despacho pra Yansã de quando em vez. Batizados em criança, todos seriam iguais perante a Sacrossanta Urna.

Já pelo american way, a coisa seria a little bit mais complicada: o eleitor teria que possuir um green-card bento. Haveria uma espécie de voto paroquial misto, via cartão perfurado, com a escolha de um clero eleitoral, que iria para uma votação indireta diocesiana, que seguiria para a escolha arqui-indireta arquidiocesiana, e assim por diante – até sobrar um felizardo, saudado com um mega-show de fogos de artifício (no lugar daquela fumacinha muxiba) e com a carolada cheia de bottoms e bandeirolas, gritando em S. Pedro Square: “We have a Pope!”.

Fosse qual fosse o sistema eleitoral, a barulheira seria grande. A polêmica começaria na distribuição de santinhos. Os candidatos disputariam a tapa a aliança com os ditos-cujos: “Cardeal Noël ganha apoio de S. Nicolau de presente”; “São Sebastião é Cardeal Margarida – por um papado alegre.”; “Candidato Azarão Dom Barrichelotto ganha apoio de S. Judas Tadeu e tem fé na vitória”; “São Longuinho é ey-ey-Eymael”. Como, minha senhora? O Eymael, o “democrata cristão”? Sim, sim, pelo Direito Canônico, qualquer católico pode ser eleito Sumo Pontífice! Basta “ser homem, com pleno uso da razão”. O que pensando bem impugnaria metade dos candidatos, se passados num teste de madureza. Além do quê, o requisito dos cromossomos XY cortaria as asinhas de todas as papisáveis, para cólera das sufragettes.

Haveria tudo a que uma campanha qualquer tem direito: muito conto do vigário, distribuição eleitoreira de indulgências, tentativas arbitrárias de excomunhão contra adversários, propaganda irregular em campanários, revelação de segredos de sacristias, uso desregrado de Photoshop (até sob a batina) e aquelas vinhetas de TV, com o os candidatos segurando criancinhas  (toc! toc! toc!) e visitando obras de novas capelas, com o rosto e os sovacos suados de tanto ministério. Além de promessas miraculosas. Pesquisas eleitorais seriam usadas só para “consumo interno”, como segredo de confessionário.

No dia da Grande Eleição, a segurança em paróquias conturbadas seria garantida pela Guarda Suíça, com trajes medievais e tudo (vale o apoio dos Dragões da Independência na retaguarda). Durante a apuração, não faltariam denúncias de fenômenos como a multiplicação de votos. A Justiça Canônica, no entanto, lavaria as mãos. Ao final das contas, “consummatum est”.

E quem não gostasse que fosse reclamar ao bispo.