domingo, 20 de maio de 2012

Uma modesta Wish List…

 

Fran Pacheco


Que todos os tomara-que-caia caiam. Que todas as pelancas se recolham. Que nossos cheques nunca sejam descontados. Que o Tempo, que é dinheiro, pague todas as nossas dívidas. Ou que pelo menos apague os registros do SPC e do caderninho de fiado do português do boteco.

Que todos os operadores de telemarketing percam a voz (e levem junto pagodeiros, funkeiros, axés, breganejos e quejandos). Que todo cartão de crédito e assinatura de celular possam ser cancelados num estalar de dedos. Que a hedionda máquina de bater ponto seja erradicada da face da Terra. Que todos os supervisores, gerentes, capatazes e capitães-do-mato sejam defenestrados em gloriosa apoteose.

Que nenhuma célula-tronco se transforme em mais um pequeno filhote de político. Que a expressão “autoridade competente” deixe de ser um paradoxo. Que a Receita acredite de uma vez por todas em nossas não-declarações de renda (em troca a gente finge acreditar que o Estado funciona).

Que Mariana Godoy ganhe um programa diário de 18 horas de duração. Que Scarlett Johansson ofereça a todo homem de boa vontade seu abundante afeto (mas se ela for egoísta e se doar a um só felizardo, melhor ainda, eu topo). Que todo adolescente tenha direito a uma Mrs. Robinson no Bar-Mitzvah. Que nenhuma mulher sinta mais tesão pelo Chico Buarque.

Que a Organização Mundial do Trabalho reconheça a atividade do flaneur e que a ONU tenha por legítimo o direito inalienável dos povos de ficarem à toa por aí. Que seja instituída a licença-ressaca, proporcional à consumação. Que a indústria da cerveja expie seus pecados abastecendo perene e gratuitamente o freezer dos bicudos de bem.

Que a corrida tecnológica pare de tornar nossos computadores cada dia mais lentos que os da vitrine. Que finalmente, na imensidão do vasto mundo, haja uma vaguinha pra estacionar. Que o Google encontre a minha coleção de estampas Eucalol perdidas nos desvãos do tempo. Que todo humorista tenha direito à paisagem ipanemense da varanda do finado Millôr.

Que todas as noites cumpram o que prometerem. Que os “dias úteis” se tornem um mal desnecessário.
Que esta lista se realize.