Fran Pacheco
Que todos os tomara-que-caia caiam. Que todas as pelancas
se recolham. Que nossos cheques nunca sejam descontados. Que o Tempo,
que é dinheiro, pague todas as nossas dívidas. Ou que pelo menos apague
os registros do SPC e do caderninho de fiado do português do boteco.
Que todos os operadores de telemarketing percam a voz (e
levem junto pagodeiros, funkeiros, axés, breganejos e quejandos). Que
todo cartão de crédito e assinatura de celular possam ser cancelados num
estalar de dedos. Que a hedionda máquina de bater ponto seja erradicada
da face da Terra. Que todos os supervisores, gerentes, capatazes e
capitães-do-mato sejam defenestrados em gloriosa apoteose.
Que nenhuma célula-tronco se transforme em mais um pequeno
filhote de político. Que a expressão “autoridade competente” deixe de
ser um paradoxo. Que a Receita acredite de uma vez por todas em nossas
não-declarações de renda (em troca a gente finge acreditar que o Estado
funciona).
Que Mariana Godoy ganhe um programa diário de 18 horas de
duração. Que Scarlett Johansson ofereça a todo homem de boa vontade seu
abundante afeto (mas se ela for egoísta e se doar a um só felizardo,
melhor ainda, eu topo). Que todo adolescente tenha direito a uma Mrs.
Robinson no Bar-Mitzvah. Que nenhuma mulher sinta mais tesão pelo Chico
Buarque.
Que a Organização Mundial do Trabalho reconheça a atividade do flaneur e que a ONU tenha por legítimo o direito inalienável dos povos de ficarem à toa por aí.
Que seja instituída a licença-ressaca, proporcional à consumação. Que a
indústria da cerveja expie seus pecados abastecendo perene e
gratuitamente o freezer dos bicudos de bem.
Que a corrida tecnológica pare de tornar nossos
computadores cada dia mais lentos que os da vitrine. Que finalmente, na
imensidão do vasto mundo, haja uma vaguinha pra estacionar. Que o Google
encontre a minha coleção de estampas Eucalol perdidas nos desvãos do
tempo. Que todo humorista tenha direito à paisagem ipanemense da varanda
do finado Millôr.
Que todas as noites cumpram o que prometerem. Que os “dias úteis” se tornem um mal desnecessário.
Que esta lista se realize.