domingo, 10 de junho de 2012

Cada povo tem o Jubileu que merece


Por Fran Pacheco

Há mais diferenças entre Trafalgar Square e a Praça da Matriz do que sonha nossa vã ciência política. Enquanto na brumosa Albion os súditos comemoram o Jubileu da Rainha (coisa que eu só tinha visto antes nos festejos da saudosa tataravó Vitória), o que resta aos cortesãos locais? Leia-se: nossa riquíssima biodiversidade amazônica de caudatários, arrivistas, aventureiros, vassalos, aspones, yes-men, xerimbabos, “cidadãos honorários”, suplentes-de-qualquer-coisa, penas de aluguel, bobos da corte, mercadores de especiarias e quejandos –  todos doidos para aplaudir a Augusta Chefia ao primeiro raiar do Sol?

Resta preparar o foguetório e sair em procissão do roadway da Marina Tauá, para celebrar os 30 anos de Regência, o “Jubileu de Dólares” da Casa Feudal que vem ganhando todas as eleições nessa terrinha, desde o remoto Ano do Senhor de 1982.

Nenhuma musa de Roland Garros sequer era nascida naquele longínquo ano, em que as moçoilas copiavam os cabelos do Duran Duran e a gigante do fast-food local era a Ziza’s. O município de Presidente Figueiredo mal completara um ano de fundação, mas já trazia a marca registrada do nosso puxa-saquismo de Estado, batizado que fora em reverência ao caudilho equino da ocasião (o sobrenome ficou, o nome eu esqueci, talvez fosse Fulgêncio Batista).

Pois desde aquela justa em que o “Boto” bateu o “Magro” – e nesses 30 longos invernos do nosso descontentamento que se seguiram – o que emplacamos no Paiz das Amazonas foi um feito não alcançado nem pela União Soviética em seus áureos tempos: um Timoneiro passando o comando ao Imediato, de sua lavra, às vezes alcunhado de “Candidato do Sistema”, quando não a si próprio – ininterruptamente.

Lá (cito de cabeça): Stálin, Kruschev, Brejniev, Andropov, Chernemko, Gorbachov. Cá: Mestrinho, Amazonino Armando, Vivaldo, Mestrinho, Amazonino Armando, Amazonino Armando (bis), Braga, Braga (bis in idem), Omar, Omar (bis in bis in idem)...

Alguém com pendor matemático poderia completar essa série com facilidade até 2042. Com o avanço da medicina, a “jovem guarda” dos nossos Lordes Protetores estará inteiraça quando o Rei Charles Parker-Bowles for apenas uma estátua feiosa a mais no mausoléu dos Windsor – e o Amazonas ainda for esta mesmíssima terra do muro baixo (feito de pedrinhas de dominó), esta terra em que se Armando, tudo dá.