Por Fran Pacheco
Há mais diferenças entre Trafalgar Square e a Praça da
Matriz do que sonha nossa vã ciência política. Enquanto na brumosa Albion os
súditos comemoram o Jubileu da Rainha (coisa que eu só tinha visto antes nos festejos
da saudosa tataravó Vitória), o que resta aos cortesãos locais? Leia-se: nossa
riquíssima biodiversidade amazônica de caudatários, arrivistas, aventureiros,
vassalos, aspones, yes-men, xerimbabos, “cidadãos honorários”,
suplentes-de-qualquer-coisa, penas de aluguel, bobos da corte, mercadores de
especiarias e quejandos – todos doidos para aplaudir a Augusta Chefia ao
primeiro raiar do Sol?
Resta preparar o foguetório e sair em procissão do
roadway da Marina Tauá, para celebrar os 30 anos de Regência, o “Jubileu de
Dólares” da Casa Feudal que vem ganhando todas as eleições nessa terrinha,
desde o remoto Ano do Senhor de 1982.
Nenhuma musa de Roland Garros sequer era nascida naquele
longínquo ano, em que as moçoilas copiavam os cabelos do Duran Duran e a
gigante do fast-food local era a Ziza’s. O município de Presidente Figueiredo
mal completara um ano de fundação, mas já trazia a marca registrada do nosso
puxa-saquismo de Estado, batizado que fora em reverência ao caudilho equino da
ocasião (o sobrenome ficou, o nome eu esqueci, talvez fosse Fulgêncio Batista).
Pois desde aquela justa em que o “Boto” bateu o “Magro” –
e nesses 30 longos invernos do nosso descontentamento que se seguiram – o que
emplacamos no Paiz das Amazonas foi um feito não alcançado nem pela União
Soviética em seus áureos tempos: um Timoneiro passando o comando ao Imediato,
de sua lavra, às vezes alcunhado de “Candidato do Sistema”, quando não a si
próprio – ininterruptamente.
Lá (cito de cabeça): Stálin, Kruschev, Brejniev,
Andropov, Chernemko, Gorbachov. Cá: Mestrinho, Amazonino Armando, Vivaldo,
Mestrinho, Amazonino Armando, Amazonino Armando (bis), Braga, Braga (bis
in idem), Omar, Omar (bis in bis in idem)...
Alguém com pendor matemático poderia completar essa série
com facilidade até 2042. Com o avanço da medicina, a “jovem guarda” dos nossos
Lordes Protetores estará inteiraça quando o Rei Charles Parker-Bowles for
apenas uma estátua feiosa a mais no mausoléu dos Windsor – e o Amazonas ainda
for esta mesmíssima terra do muro baixo (feito de pedrinhas de dominó), esta
terra em que se Armando, tudo dá.